terça-feira, fevereiro 16, 2010

Devaneios dos 10 dias

Descobri que mais do que nunca eu tenho que escrever as coisas no momento em que eu as penso. Queria lembrar cada palavra vinda em minha mente. Dar vida a elas. Espero ir lembrando aos poucos, porém já não serão autênticas. E serão tardias. Além de bagunçadas. Todas juntas e embaralhadas num texto só. Como meus sentimentos confusos, bagunçados e misturados nas palavras.


Nos últimos 10 dias pensei tantas coisas e não registrei. Sobre as sensações de um lugar estranho, mas conhecido. De pessoas que vejo poucas vezes na vida, mas que me são tão queridas.

Como da vez que parei para olhar ao meu redor num shopping e vi que tudo parecia como o lugar onde moro. Até o momento em que ouvi o sotaque de todos ao meu redor. E minha ficha de que eu não estava num lugar de sempre caiu. Sim, estava no lugar que escolhi para descansar. E por que escolhi este lugar? Me sinto em casa, ou melhor, me sinto a vontade.

Do começo. Em março teria minhas tão desejadas férias. Combinei com minha mãe que queria passar uns dias em algum lugar onde eu pudesse descansar. Estão descartei a possibilidade de ir a algum lugar onde eu ficasse com vontade de conhecer pontos turísticos e coisa e tal. Escolhi João Pessoa. Não fui muito lá, mas já vi algumas coisas por lá. E o mar é uma benção. Era isso: descanso, sol e mar.

Só que minha vida deu uma virada e tive que antecipar a viagem. E em três dias antecipamos tudo para um mês antes. Ótimo!!!

Na primeira etapa da viagem mais uma vez me dei conta de como eu sou diferente de minha mãe. Minha disposição era outra. Não estava ansiosa. Muito pelo contrário, na viagem de ida eu queria era entrar no ritmo que me propus. Nossa escala em Salvador não foi tão boa, mas nem me afetei como ela. Foi chato, lógico que foi, mas o que não tem remédio, remediado está.

No primeiro dia não resisti e fui pra praia, tarde mesmo... Ah! O mar... não tenho palavras para descrever. Enquanto eu caminhava na praia desejava ser invisível, pois não queria me preocupar com a leitura que eu faria dos olhares dos outros. Só queria me preocupar com o sol e com o mar. Meu amado mar.

Voltando ao shopping. Este, o de Manaíra, está cada vez mais parecido com os daqui. Tem tudo que tem aqui. Acrescentando o sotaque. Música para os meus ouvidos. Amo o sotaque.

Nestes 10 dias aprendi que tudo pode até parecer com o que você está acostumado, mas não é bem assim. Entre os encontros e desencontros. Com pessoas vividas, viajadas, estudadas, cultas, e o que mais vier. Existe uma questão do ser nordestino. Acho que me sinto em casa porque cresci num ambiente predominantemente paraibano. A parte mineira teve sim sua influência, mas o paraibano é a referência maior, penso eu. Ou penava eu.

Conversa vai, conversa vem. Notícias, histórias, causos, relatos, opiniões, piadas, observação. Valores pesam. Uma filha que não foi passar as férias na casa do pai porque o pai não permitiu que o namorado de poucos meses fosse junto. Ou o namorado de outra menina que pensa em mudar de cidade e no momento que se cogitou dividir o apartamento com as primas e a namorada não quis porque só irá morar debaixo do mesmo teto que ela depois de casado. Valores que apoio. Afinal o mundo tem esquecido o sentido de família, de amor, de companheirismo. O mundo tem esquecido valores, afetos, sentidos. Tudo é um oba-oba vazio e fugaz. Um fugir pra qualquer lugar apenas para sair de uma terra que ainda se agarra às raízes, aos valores, ao afeto, ao respeito.

Às vezes acho que nasci no lugar e/ou no tempo errado. Que apesar da minha compreensão de mundo e do mundo prefiro estes pequenos lugares no mundo. Onde você vê que uma amizade e preservada para um sempre em que distância e tempo não afetam. Que vontade de ter tido um pouco mais disso. Sinto a frieza de Brasília. Sinto que é minha culpa também, sou meio tratante, meio desleixada. E sei que existem outros fatores que no momento não vêm ao caso.

Sempre que vou à Paraíba tenho noção de família... no fim descobriremos que lá todo mundo é primo de todo mundo.

Outra coisa que me marcou demais e de certo modo me entristeceu, foi ouvir histórias de pessoas que eu amo incondicionalmente e que eu não participei, não presenciei e que o tempo que estivemos juntos em nossas vidas não contabiliza um ano. Como se pode amar tanto certas pessoas sem as conhecer direito? São tantas coisas que não sei por vivenciar e sim porque me contaram ou porque apreendi nos poucos momentos em que estivemos juntos. Inexplicável.

Sempre que vou lá me sinto em casa. Rodeada pela família. Só que uma família que conheço por ouvir dizer. Pelas histórias, mas principalmente pelo carinho e cumplicidade presentes nelas. Palavras carregadas de afeto. Lembranças saudosas de algo que não vivi, mas sempre quis pra mim. Crescer e conviver com primos. Tê-los como amigos próximos. Curti-los. Estar presente... este é o ponto... estar presente... vivenciar, experimentar, dar o ombro, a mão, o pé e até a vida.

Sinto todas essas coisas quando vou ã Paraíba. Aconchego, surpresa, família, amor. Mas também sinto falta do que não vivi, do que não tive, neste caso nunca terei, porque já estamos crescidos. E quero muito que isso não ocorra com nossos filhos. Não posso correr atrás do tempo perdido. Não posso mais participar das festas, formaturas, campeonatos, choros, risos... mas posso escrever novos momentos.

Queria poder demonstrar mais certas coisas. Queria poder querer mais certas coisas.

Sim, descansei e matei um pouco da minha saudade. Porém, ainda não fiz tudo o que eu queria fazer. Sei que este dia chegará, só queria que não tardasse.

Este é o efeito Paraíba... muitas palavras se perderam em meio ao vento e a maresia... mas creio que a essência delas esteja nestas palavras acima.